Historial de Assuhaburrassul

27-04-2012 15:13

Em nome de Allah, o Compassivo e Misericordioso

Breve historial da madrassa Assuhaburrassul

Antes de mais nada, gostaríamos de louvar Allah o todo-poderoso e que bênçãos estejam sobre o mais nobre dos profetas (S.A.W) e seus companheiros que tanto trabalharam para a religião islâmica.

A madrassa Assuhaburrassul surgiu nos finais do ano de 2009, sob a liderança do Muhaddith[1] Sheik Owess Ibn Abdullah Hamisse Mutawala graduado pela Universidade Islâmica de Madina. Desde a sua fundação, ela veio funcionando na mesquita Baraza – cidade de Nampula, localizada no bairro de Muahivire nos arredores desta cidade, uma das maiores cidades de Moçambique. Na altura da sua fundação, a madrassa funcionava com aulas de disciplinas de tajwid (todas manhas depois de salatFajr); árabe, inglês, francês, medicina, electricidade, empreendedorismo – todos fins-de-semana, de salat Asr até ao salat Insha.

No seu auge a madrassa chegou a funcionar com alunos de várias idades – crianças, jovens e adultos. De salientar que até esta altura o professor da madrassa era o Imamo[2] principal e tudo corria sem sobressaltos, embora existissem alguns muçulmanos que se sentiam “ameaçados” com o nível de aprendizagem que se estava adquirindo. A história do islão ensina-nos que em qualquer era existirão pessoas que sempre quererão pôr em causa os versículos do alcorão e tradição do profeta (S.A.W), ridicularizando, desacreditando ou mesmo renegando-os.

Foi assim que aconteceu connosco na mesquita Baraza. O professor da madrassa outrora imamo da mesquita foi afastado devido a sua pregação forte no tauhid[3] e tradição do profeta (S.A.W), de transparentar que ele é formado em “Hadith” pela Universidade Islâmica de Madina. Mesmo após o afastamento dele na liderança da mesquita como imamo principal, a madrassa foi funcionando dentro da mesquita, abaixo de grandes dificuldades devido a inveja e ódio de alguns irmãos muçulmanos que se incomodavam com progresso dos alunos. O tempo foi se passando e as aulas iam decorrendo, como acima foi mencionado embora no meio de grandes dificuldades.

Terminamos o nível I e introduzimos o nível II em língua árabe e em “tajwid” terminamos com o programa, introduzimos a recitação do alcorão. Como já se fez referência no início que alguns irmãos da mesquita entre dirigentes e não dirigentes nunca ficaram a favor da madrassa e fizeram sempre barreiras para que ela deixasse de funcionar. A sua primeira medida com vista a eliminação da madrassa foi o afastamento do professor do cargo de imamo principal, apesar desta medida não ter tido algum impacto, pois este não se deixou abalar. A segunda investida destes irmãos anti-madrassa, foi a redução do tempo de aulas; outrora as aulas de árabe começavam depois do salat Asr até pouco antes do salat insha com uma ligeira interrupção para o salat maghrib, mas com o pretexto de que o barulho proveniente da sala de aula impedia as pessoas de escutarem algumas palestras que ocasionalmente eram dadas reduziram o tempo.

Assim, as aulas passaram a iniciar depois do salat asr até pouco antes do salat maghrib. Esta medida provou não ser eficaz para eles, pois ao invés de acabar com a madrassa antes pelo contrário veio aumentar o ânimo dos alunos e do professor pois estes estavam determinados a aprender e ensinar nem que fosse por um só segundo. O número de alunos foram aumentando cada vez mais chegou-se a aventar a possibilidade de formar-se duas turmas, pois os primeiros estavam muito avançados e novos ingressos não paravam de chegar.

No entanto, havia alunos oriundos de quase todos bairros da cidade, nomeadamente Mutauanha, Napipine, Muhala, Namutequeliua, Muahivire entre outros. Como forma de enquadrar os alunos recém-chegados adoptou-se uma medida na qual os alunos mais avançados deviam dar aulas intensivas aos novos em tempos extras como forma de criar equilíbrio. Esta medida deu resultados positivos com ajuda de Allah e empenho e dedicação de todos. A aprendizagem foi decorrendo de maneira sã, a madrassa não parava de crescer e se ia tornando referência ao nível da cidade como uma das pioneiras no ensino da língua árabe por alguém com competências e qualidades.

Mas isto era só o começo, pois a ideia era dotar os alunos com a língua árabe para mais tarde entrar em outras áreas de conhecimento o que tornaria as matérias a leccionar relativamente fáceis de assimilar.

As investidas dos dirigentes da mesquita com vista a erradicação da madrassa não paravam mesmo sabendo que alguns destes tinham seus filhos a estudar na mesma. Nas vésperas do mês de Ramadane, que coincidia com o mês de Agosto do ano de 2011, o pior aconteceu. Inexplicavelmente e sem justa causa, se é que existiria causa alguma que justificasse tamanha maldade os dirigentes da mesquita decidiram amputar a madrassa com o pretexto de que o professor da madrassa, que é quadro sénior do Conselho Islâmico de Moçambique ao nível da província de Nampula deu uma palestra na rádio Haq falando mal deles decidiram expulsá-lo da mesquita juntamente com a madrassa e qualquer aluno que quisesse se intrometer no meio.

Agora, vejamos e analisemos esta prática. Expulsar alguém da mesquita e eliminar uma madrassa, será que existe alguma razão que justifique tamanha maldade? A palestra em alusão dava a conhecer a todos muçulmanos a necessidade de se precaverem de algumas acções levadas a cabo por alguns patrocinadores de má-fé que pelo simples facto de doar algo a uma mesquita, acham-se na posição de impor certas regras mesmo sabendo que estas estão contra a tradição do profeta (S.A.W).

E pedia também na mesma palestra aos irmãos muçulmanos de todos quadrantes do país, em geral, e da província de Nampula, em particular, para contribuírem com algo nos seus iftares[4] e não esperar que alguém lhes traga alguma comida. Que os muçulmanos aprendam a trazer na hora de iftar[5] um pão, uma banana, uma bolacha e até água para o seu próprio iftar e se poderem partilhar com o outro porque Allah os recompensará.

Os belos apelos do sheik Mutawala provocaram fúria nos anti-madrassa. Se a intenção foi sempre de acabar com a madrassa no recinto da sua mesquita, pois sempre tentaram fazê-lo, então, o momento já havia chegado e lá se foi a madrassa e o seu professor que agora para além de ser impedido de ensinar a religião está confinado a rezar na sua casa nas horas em que lá estiver porque também está expulso da mesquita.

Com este acto bárbaro, lágrimas rolaram nas faces dos estudantes, a tristeza se fez sentir no seio dos muçulmanos sensatos, pois que estes sabiam da credibilidade e da bagagem do conhecimento que o Muhaddith possuía. Tentativas de negociação, pedidos de desculpa mesmo não havendo motivos para tal, só para deixar o caminho de ensino livre resultaram num fracasso. Sem lugar para aprender os alunos que outrora todas as tardes de todos sábados e domingos lotavam a mesquita a aprender a língua do profeta e do sagrado alcorão viram os seus objectivos resvalados.

Internamente e com ajuda do incansável professor formaram-se comissões para angariação de fundos ao nível local para construção de uma madrassa exclusivamente virada ao ensino da religião de Allah, mas as coisas estão se revelando tão difíceis do que nós pensávamos ou melhor Allah ainda não nos abriu as portas, fazemos prece para que tal aconteça.

 



[1]Muhaddith é um termo que designa um indivíduo que tenha cursado os ditos do profeta Muhammad (SAW)

[2]Imamo é a pessoa que lidera um certo grupo, mas concretamente na nossa realidade moçambicana é quem lidera as orações.

 

[3]Tauhid é o ramo da ciência islâmica que está virado exclusivamente na unicidade de Deus.

[4]Iftares é um termo árabe que se refere a quebra do jejum.

[5]Iftar singular de iftares.